sexta-feira, 29 de abril de 2011

...não se esqueça depressa de mim, sim?


"Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?"
- Chico Buarque

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Happy Birthday, Mumia Abu Jamal


Hoje é o aniversário de 57 Mumia Abu Jamal. Mumia continua a luta atrás das grades, mas ele é uma inspiração para milhões de pessoas no mundo. Que possamos continuar a chamar a atenção para o seu caso e todos os presos políticos, para que um dia eles serão libertados. Vamos torcer para que tenhamos um novo julgamento no caso dele.
Aqui estão algumas das citações de Mumia:
http://www.quotesstar.com/people/occupations/journalists/mumia-abu-jamal-quotes.html
Aqui está uma entrevista que Mumia deu à Revista mexicana, Desinformémonos.
"É preciso muito para fazer a revolução ... e muito a preservar."
"Sobre a ideia da organização de fora dos partidos políticos e da classe política-Estou com ela. Na verdade, ela pode ser a única coisa que impede os movimentos sociais fresco e livre dos laços da corrupção política. "
Gloria Muñoz Ramírez

Um ano atrás, começamos a tentar arranjar uma entrevista com Mumia, um dos mais conhecidos presos políticos do mundo. Nós enviamos-lhe cartas e pedidos através de todos os contatos disponíveis (incluindo os Amigos de Mumia do México), que gentilmente se ofereceu para ajudar a entrar em contato com ele no corredor da morte na prisão de Waynesburg, na Pensilvânia, estado onde ele foi preso por 29 anos. Um belo dia apareceu um envelope embaixo da nossa porta com o nome de MA Jamal como o remetente. Esta é a primeira entrevista do ativista Africano-Americano e ex Pantera Negra deu uma mídia mexicana.

Numa carta de duas páginas, datilografadas, Mumia fala da necessidade de organização social, dos partidos políticos como "servos do capital", a relevância dos movimentos autônomos e as propostas do EZLN, do movimento Africano-Americana nos Estados Unidos Estados, dos ensinamentos de Franz Fanon, e as expectativas despertadas por Obama quando ele se tornou presidente em um país onde "os negros ocupam cargos, mas têm pouco poder."

A maneira Mumia vê-lo, "a luta continua".
A entrevista com Mumia segue o formato da sua escolha:

Hola! Vou tentar abordar algumas das suas preocupações neste formato. Aqui vamos nós!

Como organizar:
Não existe um único, de uma forma nem um evento que faíscas essas coisas.Porque as pessoas são complexas, e, claro, as condições mudam. Organizadora começa, de acordo com o C.L.R. grande James, quando duas pessoas concordam em trabalhar juntos. Mao disse que "uma única faísca pode começar um fogo na pradaria", e que certamente parece ser esse o caso quando você olha para o Egito e Tunísia, nas últimas semanas. Mas também é verdade que a organização tem falado lugar (especialmente no Egito) há já algum tempo, e parece que muitas pessoas simplesmente chegou a um ponto de ruptura.

Os partidos políticos:
Muitos, de fato, a maioria dos partidos políticos, especialmente nas metrópoles, tornaram-se servos de abrir capital e, assim, competir, nem mesmo fingindo representar o povo, mas a serviço da Riqueza. O historiador francês Tocqueville disse famosa,

"Que a política do cidadão americano não conhece a maior profissão - pois é o mais lucrativo." Ele escreveu isso há 150 anos!

Eles são realmente os impedimentos às necessidades e os interesses do povo. Isto é especialmente evidente no chamado mundo desenvolvido, onde vemos os políticos prometem uma coisa para ser eleito e, em seguida, uma vez no escritório renegar as próprias coisas que prometeram. Eles nunca cair, no entanto, ao serviço de seus "amigos" em Wall Street, ou na cidade, ou da Bolsa. Começam a parte do leão - da riqueza do povo!

Autonomia:
Se eu entendi o que você está dizendo (não sendo pouco os movimentos autônomos em os EUA), que quer dizer que os movimentos são "autônomas" dos partidos políticos. Se esse entendimento está correto, que eu sou todo para ele. Os partidos políticos, além de serem mecanismos de acumular riqueza pessoal, são máquinas para dar às pessoas a ilusão de democracia.

EZLN planos:
Eu estou com isso. Na verdade, o que pode a única coisa que mantém os movimentos sociais fresca das armadilhas de corrupção que é tão comum na vida política em todo o mundo. Um velho amigo e eu temos estado a discutir essa coisa há vários anos (ele também é um estudante do EZLN). Eu acho que deveria ser explorado, experimentado, e então utilizados se pode ser feito.

Africano-americanos:
A situação, para ser sincero, é muito terrível. Para milhões de crianças em guetos dos EUA, em cidades por toda a América, a taxa de abandono é de 50%. Em algumas cidades, como Baltimore, me disseram que a cifra se aproxima de 75%. E mesmo para aqueles que se graduam, muitos deles são incapazes de entrar na faculdade, porque eles receberam uma educação de baixa qualidade. Isso é para crianças! Enquanto a taxa de desemprego oficial é de cerca de 7% a nível nacional, em preto América é mais próximo de 35% - e 60% + para os jovens! Além disso, os jovens negros estão sujeitos à violência da polícia que é evidente, brutal e mortal - e raramente são punidos por tais atos.
A eleição de Obama despertou e encorajou direita, as forças racistas, muitos dos quais têm encontrado uma casa no movimento chamado "Tea Party". Os políticos já falam abertamente em louvor da Guerra Civil (1860-1865), em nome do sul. Na verdade, há alguns dias, o governador do Mississippi foi criado para homenagear um dos fundadores da Ku Klux Klan com uma placa: Gen. Nathan Bedford Forrest, que foi responsável pela tortura e massacres de centenas de soldados Black União em lugar chamado Fort Pillow.

O Partido dos Panteras Negras:
Esse movimento tem um interesse significativo entre os jovens negros, mas poucos sabem detalhes históricos. Isso porque eles são informados pelos professores e meios de comunicação do triunfo dos Direitos Civis, que permitiu as eleições de políticos negros. O movimento nacionalista está em refluxo. O que o movimento foi realizada a separação dos trabalhadores negros de negros burgueses-orientado, e resultante da alienação do bem-fazer de seus negros pobres, os primos cidade do interior. Isso se reflete em quase todos os níveis da vida dos negros na América.Isso explica como (e porquê) as escolas para milhões de crianças latino-preto e @ podem ser tão pobre, em tantas comunidades.

Negros e Indígenas:
As diferenças são reais, pois raramente compartilham espaço de vida (a maioria das comunidades indígenas estão em áreas rurais ou ocidental, a maioria negros vivem em áreas urbanas). Dito isto, há certamente interação ideológica entre os dois, como o objectivo era claramente influenciado pelo BPP, e do movimento Black Power. As lutas pela independência e pela liberdade armado e se influenciaram mutuamente.

Migrantes:
Como o capitalismo atinge uma crise, ele obriga as pessoas a pensar mais holisticamente, e mais egoísta. Esse impulso, alimentado pelo medo (e espalhados pela mídia corporativa) reforça o sentimento de separação entre as pessoas, e dissipa-se a uniformização, a comunidade e, de fato, a coesão social. A menos que os ativistas podem construir esse sentimento de solidariedade entre os povos, estes impulsos levará a real desastres sociais e talvez histórico.

EZLN e do Partido Panteras Negras:
Acho que o que une as duas formações é (era) a insistência de que as pessoas, de todas as esferas da vida, podem desempenhar um papel importante nos movimentos sociais de mudança. Muitos movimentos nacionalista negro dos anos 60 foram bastante críticos do BPP para trabalhar com os brancos (que também trabalhou com os chicanos, porto-riquenhos, japoneses e ativistas chineses). O apelo zapatista tem sido sempre o mundo: o mundo inteiro, de cor, de gênero, de classe, etc Eu acho que a qualidade inclusiva é, no fundo, o seu mais humanista, e que apela para o trecho ampla do ser humano da família. Para que leva muitos a fazer a revolução - e muitos de preservá-la.

Contradições entre o discurso ea prática nos Estados Unidos:
Sua leitura das contradições entre os EUA como um avatar de direitos humanos e de ser a "prisão das nações é perceptivo. Essa contradição é gritante, e irrefutável.Temos muitas coisas na América, mas a democracia não é certamente um deles.Temos formas democráticas, mas não verdadeiras normas democráticas. Quando milhões de americanos foram às ruas na primavera de 2002, exigindo que os EUA não vão à guerra, a "democracia" ignorado as pessoas - eo resultado tem sido um desastre social, humanitário, ecológico, arqueológico e militares. George Bush pediu aos milhões nas ruas um "grupo de pressão" - que ele prontamente ignorado.Como é que o país que fala tão docemente de liberdade tem mais presos do que qualquer outra nação no mundo a preto-e a maioria deles é? Os EUA têm cerca de 5% da população mundial - ainda que quase 25% dos presos do mundo. Tanto para os direitos humanos.

Franz Fanon e Obama:
Africano-americanos não tomar o poder na eleição de Obama, embora eu possa entender porque alguns acham que eles fizeram. Isso porque um certo tipo de história foi feita. Pela primeira vez na história dos EUA, um negro foi eleito presidente (interessante, ele vem quase um século e meio após um homem negro se tornou presidente do México!). Mas, como Fanon ensinado no contexto Africano continental, o colonialismo foi sucedido pelo neo-colonialismo. Os negros ocupam cargos, mas, a verdade da questão é, que possuem pouco poder. Eles estão em dívida com os mesmos interesses que os políticos brancos. Na verdade, o fato triste é que os negros podem deter menos poder do que anteriormente, para os políticos negros são menos capazes de resolver problemas Preto, por medo de ser projetada pela mídia corporativa como "racista" (lembre-se o exemplo de quando Obama chamou o policial que perseguiram e prenderam seu amigo e antigo professor universitário, Henry Louis Gates Jr., "estúpido"). A mídia enlouqueceu. O incidente revelou também que 'elite' do Black (se for um prof Harvard. Elite não é, ninguém é), Prof Gates foi tratado como um negro pobre no gueto, preso em sua própria casa, humilhado e preso por atrever a falar ousadamente a um policial branco. Os meios de comunicação de Obama montou em silêncio.

Sobre mim:
Como os moçambicanos costumava dizer, "a luta continua": uma continuação Luta.Temos que construir e ampliar e aprofundar e fortalecer nossa luta, onde quer que seja, pois, para citar Frederick Douglass, "Sem luta não há progresso." Pode não ser fácil, mas é necessário.

Adios, mis amigos! Y gracias Por TODO!
Mumia

Tradução by Google tradutor.

Obs. não consegui remover aquelas marcações automáticas brancas.

terça-feira, 26 de abril de 2011

...me leve apenas para andar por aí."

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"Não me leve a mal, me leve apenas para andar por aí."

(Chico Buarque)

...sente-se rapidamente a tentação de as infringir.


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"Onde existem poucas proibições, estas são obedecidas onde a cada passo se tropeça em coisas proibidas, sente-se rapidamente a tentação de as infringir."

(Sigmund Freud)

percorro teu pequeno infinito

"...amar é um combate de relâmpagos e dois corpos por um só mel derrotados. Beijo a beijo percorro teu pequeno infinito, tuas margens, teus rios, teus povoados pequenos, e o fogo genital transformado em delícia corre pelos tênues caminhos do sangue até precipitar-se como um cravo noturno, até ser e não ser senão na sombra de um raio."

- Pablo Neruda

domingo, 24 de abril de 2011

...amaríamos uns aos outros.


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"Existe mais canções de amor do que qualquer outro tipo, se canções influenciassem as pessoas, amaríamos uns aos outros."

(Frank Zappa)

Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito.

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"Tudo que parece meio bobo é sempre muito bonito, porque não tem complicação. Coisa simples é lindo. E existe muito pouco."

- Caio Fernando de Abreu

la lucha de la memoria contra el olvido


“La lucha del hombre contra el poder es la lucha de la memoria contra el olvido.”

(Milan Kundera)

todos os deputados deviam ser presos, não?

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Militantes da Marcha da Maconha foram presos por defender mudança de legislação. Por essa lógica, todos os deputados deviam ser presos, não?
(via @daniloguiral)

Prisão de manifestantes da Marcha da Maconha é prisão política. É urgente a descriminalização do delito de "apologia" que permite abuso.
(via @moysespintoneto)

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Se amar pra você é brincar...


"Se amar pra você é brincar, então volte pro jardim de infância, idiota."
(Renato Russo)

terça-feira, 19 de abril de 2011

há um pássaro azul no meu coração


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"há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?"

(Charles Bukowski)

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...como tudo se torna mais fácil.


"Não se importe, não se apegue, não ligue, não procure, não fique em cima, não seja disponível. E verá como tudo se torna mais fácil."

- Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 4 de abril de 2011

A subversão do gênero - Há 100 anos, Marie Curie ganhava seu segundo Prêmio Nobel, o de Química

A subversão do gênero
Neldson Marcolin

Em 1911 Marie Curie ganhou o Prêmio Nobel de Química pelos trabalhos sobre radioatividade – nome proposto por ela em 1898 –, pela descoberta dos elementos polônio e rádio e por ter isolado o rádio. Foi a sua segunda láurea. A primeira ocorreu em 1903, quando recebeu o Nobel de Física junto com o marido Pierre e Henri Becquerel, pelos estudos sobre radioatividade espontânea. Madame Curie foi pioneira em muitas outras frentes. É até hoje a única pessoa a receber duas vezes o Nobel em áreas diferentes da ciência. Foi a primeira mulher doutora em ciências físicas, a primeira professora universitária da França e coordenadora de um laboratório no país e a primeira a ganhar uma cátedra na Universidade de Sorbonne. “Suas descobertas inquestionáveis transformaram duas áreas, a física e a química”, observa o físico Vanderlei Salvador Bagnato, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), de São Carlos.

Os 100 anos do segundo Nobel de Marie Curie entrarão no rol das comemorações de 2011, escolhido pelas Nações Unidas como o Ano Internacional da Química este mês, em 8 de março, se comemora também o Dia Internacional da Mulher. Há décadas a cientista simboliza o sucesso e a competência feminina em áreas com grande predominância masculina, como a química e a física. Suas lutas e tropeços, no entanto, são um pouco menos conhecidos.

Madame Curie (1867- 1934) nasceu em Varsóvia, capital da Polônia então ocupada pela Rússia, como Maria Sklodowska. Completou os estudos do ensino médio e frequentou centros clandestinos de ensino para mulheres, uma vez que os russos só admitiam homens nas universidades. Maria queria continuar estudando e ambicionava um doutorado. Em 1891 partiu para Paris e foi aceita na Universidade de Sorbonne onde se graduou em física e matemática. No período, conheceu e casou com o físico Pierre Curie em 1895. Virou, então, Marie Curie.

Em busca de um tema de pesquisa, Marie optou pelos raios recém-descobertos pelo francês Henri Becquerel. Estudioso das substâncias fosforescentes e fluorescentes, ele queria verificar se elas emitiam raios X, descobertos em 1895 pelo alemão Wilhelm Röntgen. Ao utilizar urânio, o francês viu que o elemento emitia radiação, mas diferente dos raios X. No final de 1897, Marie tentou descobrir outros materiais que emitissem o mesmo tipo de radiação do urânio. Na Alemanha, G. C. Smith teve a mesma ideia. Já em abril de 1898 os dois relataram que o tório também emitia radiação semelhante. Marie, porém, notou que dois minerais de urânio, a pechblenda e a calcolita, eram mais ativos do que o próprio urânio. A partir daí ela predisse a existência de dois novos elementos: o polônio, em homenagem à Polônia, e o rádio, por ser o mais radioativo dos materiais analisados por ela. Na mesma ocasião em que divulgou suas descobertas, em 1898, ela chamou a atenção para o fato de o urânio e o tório serem elementos de maior peso atômico.

Marie e Pierre trabalharam por anos em um galpão cedido pela École de Physique et Chimie Industrielle, sem nenhuma estrutura. O lugar só era conveniente por estar próximo da residência, o que permitia a ela cuidar da casa e da filha e trabalhar no laboratório. Marie sempre realizou suas pesquisas com apoio e colaboração de Pierre tanto na parte científica como para ser levada a sério pela comunidade de cientistas. O primeiro Nobel, por exemplo, era para ser dado apenas para Pierre e Becquerel. Foi preciso a mobilização de Pierre para fazer a Academia Sueca incluir Marie na premiação.

“Marie Curie era tão capaz como qualquer outro cientista importante, mas, por ser mulher, foi colocada na borda do centro da ciência daquele período”, diz o antropólogo Gabriel Pugliese, da Escola de Sociologia e Política, que estudou o assunto com orientação de Lilia Moritz Schwarcz, da USP. “Os prêmios não apagam uma trajetória cheia de dificuldades.” Quando voltou de Estocolmo depois de ter recebido o Nobel de 1911, Marie encontrou sua casa em Paris apedrejada. Motivo: os jornais haviam divulgado um caso amoroso dela – que já era viúva havia cinco anos – com um colega francês casado, com quatro filhos.

Depois o Dr. House que é mau...

Lungaretti: os médicos aliados à ditadura militar

"Eu juro, por Apolo, médico, por Esculápio, Higéia e Panacéia, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue...

...Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda...

...Conservarei imaculada minha vida e minha arte..."

Declaração solene que os médicos tradicionalmente fazem ao se formarem, o Juramento de Hipócrates era miseravelmente atraiçoado por médicos que serviam à ditadura de 1964/85.

O caso do ativista Olavo Hanssen – assassinado pelos torturadores em 1970 e apresentado no laudo médico como suicida – que relatei brevemente no artigo Olavo, Eremias, Juarez e os outros mártires nos legaram uma missão, motivou o companheiro Luiz Aparecido, militante histórico do PCdoB e preso político que foi muito torturado pelos militares, a escrever-me o seguinte:
"...tambem fui levado para o Hospital Militar do Cambuci depois de 17 dias de torturas intermitentes para, segundo meus algozes, me operar dos rins, pois estava há dias urinando puro sangue e urrando de dor. Fiquei lá uns 10 dias, quando abriram minha barriga, cujo corte esta comigo até hoje e me disseram que tinham retirado um dos meus rins que estava esmagado de tanta porrada. Voltei para a Oban/DOI-Codi costurado e ainda todo arrebentado.

Não é que só agora depois de minha doença na medula que me deixou quase paralitico descobri a verdade. No Hospital Sarah em Brasilia, fizeram uma checagem geral em mim e descobriram que eu tinha os dois rins. Só que um ficou necrosado dentro de mim desde 1973.

Resultado que conclui depois deste exame do Sarah. Meus algozes, me abriram, não encontraram nada nos rins a não ser lesões e costuraram de novo e ficaram com uma desculpa na ponta da língua. Se eu morresse nas tortur as, que continuaram, poderiam dizer que foi por complicações na 'operação' desnecessária que fizeram".

A cumplicidade dos médicos com os torturadores é conhecida por todos que passamos pelos porões.

Quando estive próximo de enfartar aos 19 anos de idade, no Doi-Codi/RJ, houve um que me fez rápido exame, entupiu-me de calmantes e deve ter aconselhado os militares a não abrirem a mala de ferramentas comigo durante alguns dias (pois fui despachado logo em seguida para São Paulo e mandaram junto a recomendação de não me torturarem tão cedo).

Outros companheiros denunciaram a cumplicidade de médicos inclusive na aferição da intensidade das torturas que eles poderiam suportar.

E houve a produção em série de atestados de óbito fraudulentos, como o de Hanssen. O mais célebre foi o do chefe do Instituto Médico Legal de SP, Harry Shibata, dando Vladimir Herzog como suicida.

Shibata foi também acusado de instruir os Torquemadas sobre como poderiam torturar suas vítimas sem deixar marcas.

E ajudou, ainda, a acobertar a queima de arquivo no caso do delegado Sérgio Fleury, testemunha perigosa (sabia demais) e d escontrolada (seria viciado em cocaína e estaria chantageando empresários que haviam sido cúmplices da repressão e até atuado como torturadores voluntários): recebeu e cumpriu a ordem de Celso Telles, delegado-geral da Polícia Civil, de produzir um atestado de óbito evasivo sem nem mesmo tocar no cadáver de Fleury,

Para encerrar, eis um caso emblemático extraído da ótima reportagem Assistência médica à tortura (que relaciona vários outros na mesma linha e cuja íntegra está disponível no site Direitos Humanos na Internet):
"O estudante Ottoni Guimarães Fernandes Júnior, de 24 anos, preso no Rio em 1970, também declarou na 1ª Auditoria da Aeronáutica:

...que, dentre os policiais, figura um médico, cuja função era de reanimar os torturados para que o processo de tortura não sofresse solução de continuidade; que durante os dois dias e meio o interrogado permaneceu no pau-de-arara desmaiando várias vezes e, nessas ocasiões, lhe eram aplica­das injeções na veia pelo médico a que já se referiu; que o médico aplicou no interrogado uma injeção que produzia uma contração violenta no intestino, após o que era usado o processo de torniquete..."

sábado, 2 de abril de 2011

Roberto Carlos e a Ditadura

As datas, os aniversários, têm um poder evocativo muito forte. Esta semana me veio de súbito uma pergunta: que música seria mais representativa do golpe militar de 64? Quais canções, que músico seria mais representativo daqueles anos inaugurados em um primeiro de abril?

Num estalo me veio que Roberto Carlos deve ter sido o compositor mais representativo da ditadura. Não sei se num curto espaço conseguirei ser claro. Mas tento. Os mais velhos sabem que a lembrança daqueles anos muito tem a ver com os rádios, em todos os lugares, tocando
“De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar
se você não vem e eu estou a lhe esperar
só tenho você no meu pensamento
e a sua ausência é todo meu tormento
quero que você me aqueça nesse inverno
e que tudo mais vá pro inferno”
Quando Roberto Carlos explodiu os rádios do Brasil, ele cresceu em um programa que arrebentou em 65. O programa Jovem Guarda se opunha ao O Fino da Bossa, com Elis. Enquanto O Fino da Bossa fazia uma ponte entre os compositores da velha guarda do samba e os compositores de esquerda, o Jovem Guarda...
“Eu vou contar pra todos a história de um rapaz
que tinha há muito tempo a fama de ser mau..”
“O Rei, o Rei não tem culpa...”, diz-nos um senhor encanecido, ex-jovem guarda (e como envelheceu a jovem guarda!). “O Rei não tem culpa...”. Sim, compreendemos: quem assim nos fala quer apenas dizer, Roberto Carlos não teve culpa de fazer o medíocre, de falar aos corações da massa jovem daqueles anos. À juventude alienada, mas juventude de peso, em número, que ganha sempre da minoria de jovens estudiosos. Que mal havia em falar para a sensibilidade embrutecida mais ampla? É claro que ele não teve culpa de macaquear a revolução musical dos Beatles em versões bárbaras, em caricaturas dos cabelos longos, alisados a ferro e banha, para lisos ficarem como os dos jovens de Liverpool.
Mas é sintomático nele a passagem de cantor da juventude para o “romântico”. Essa passagem se deu na medida em que os jovens de todo o mundo deixaram de ser apenas um mercado de calças Lee e Coca-Cola, e passaram a movimentos contra a guerra do Vi etnã, até mesmo em festivais de rock, como em Woodstock. Ou, se quiserem numa versão mais brasileira, o Rei Roberto se torna um senhor “romântico” na medida em que as botas militares pisam com mais força a vida brasileira. Ora, nesses angustiantes anos o que compõe o jovem, o ex-jovem, que um dia desejou que tudo mais fosse para o inferno? - Eu te amo, eu te amo, eu te amo...
É claro que a passagem do Roberto Carlos Jovem Guarda para o senhor “romântico” não se deu pelo envelhecimento do seu público. De 1965 a 1970 correm apenas 5 anos. O envelhecimento é outro. Nesses 5 correm sangue e raiva da ditadura militar, no Brasil, e crescimento da revolta do público “jovem”, no mundo. Enquanto explodem conflitos, a canção de Roberto Carlos que toca nos rádios de todo o Brasil é “Vista a roupa, meu bem” (e vamos nos casar). Se fizéssemos um gráfico, se projetássemos curvas de repressão política e de “romantismo” de Roberto Carlos, veríamos que o ápice das duas curvas é seu ponto de encontro.
Enfim, o namoro do Rei Roberto Carlos com o regime não foi um breve piscar de olhos, um flerte, um aceno à distância. O Rei não compôs só a música permitida naqueles anos de proibição. O Rei não foi só o “jovem” bem-comportado, que não pisava na grama, porque assim lhe ordenavam. Ele não foi apenas o homem livre que somente fazia o que o regime mandava. Não. Roberto Carlos foi capaz de compor pérolas, diamantes, que levantavam o mundo ordenado pelo regime. Ora, enquanto jovens estudantes eram fuzilados e caçados, enquanto na televisão, nas telas dos cinemas, exibia-se a brilhante propaganda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, o que fez o nosso Rei? Irrompeu com uma canção que era um hino, um gospel de corações ocos, um som sem fúria de negros norte-americanos. Ora, ora, o Rei ora: “Jesus Cristo, Jesus Cristo, eu estou aqui”.
Os brasileiros executados sob tortura não estavam com Jesus. Nem Jesus com eles.

* Autor de “Os Corações Futuristas” e de “Soledad no Recife”, que recria os últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, executada por Fleury com o auxílio do traidor.

Dez Conselhos para os Militantes de Esquerda

Dez Conselhos para os Militantes de Esquerda

(Frei Betto)


1. Mantenha viva a indignação.

Verifique periodicamente se você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.

Cuidado: você pode estar contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito, desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.


2. A cabeça pensa onde os pés pisam.

Não dá para ser de esquerda sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da direita.


3. Não se envergonhe de acreditar no socialismo.

O escândalo da Inquisição não faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a descartar o socialismo do horizonte da história humana.

O capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes.

Segundo o Banco Mundial, 2,8 bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$ 1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2 bilhão de pessoas.


4. Seja crítico sem perder a autocrítica.

Muitos militantes de esquerda mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema.

Autocrítica não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).


5. Saiba a diferença entre militante e "militonto".

"Militonto" é aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e os efeitos de sua ação são superficiais.

O militante aprofunda seus vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os projetos comunitários.


6. Seja rigoroso na ética da militância.

A esquerda age por princípios. A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo – a liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.

Há pelegos disfarçados de militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar, sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu interesse pessoal.

O verdadeiro militante – como Jesus, Gandhi, Che Guevara – é um servidor, disposto a dar a própria vida para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder, ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.


7. Alimente-se na tradição da esquerda.

É preciso oração para cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia", e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira", de Steinbeck.


8. Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.

Conviver com os pobres não é fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de justiça.

Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e sabe aprender com eles.


9. Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.

São tantos os sofrimentos dos pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.

Em todos os setores da sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação inteira à penúria.

A vida é o dom maior de Deus. A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido por quem favorece a opressão dos pobres.


10. Faça da oração um antídoto contra a alienação.

Orar é deixar-se questionar pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida. Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda posição de juízes de quem luta.

Orar é permitir que Deus subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava, libertadoramente.


Obs. não pretendo começar a orar, mas as outras dicas são ótimas! :)