segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Enterrem meu coração na curva do rio (III): Tatanka Yotanka: Touro Sentado

"No verão de 1883, quando a estrada de ferro Northern Pacific comemorou a colocação do último prego na sua linha transcontinental, um dos funcionários encarregados das cerimônias decidiu que seria conveniente um chefe índio estar presente e fazer um discurso de boas-vindas para o Pai Grande e outras personalidades. Touro Sentado foi o escolhido - nenhum outro índio chegou a ser considerado - e um jovem oficial do Exército, que compreendia a língua sioux, foi designado para trabalhar com o chefe na preparação de um discurso. Deveria ser pronunciado em sioux e depois traduzido pelo oficial.
A 8 de setembro, Touro Sentado e o jovem Casaco Azul chegaram a Bismarck para a grande festa. A cavalo, encabeçaram uma parada e, depois, sentaram-se na plataforma dos oradores.
Quando Touro Sentado foi apresentado, ele se levantou e começou a fazer seu discurso em sioux. O jovem oficial ouviu espantado: Touro Sentado mudara o floreado texto de boas-vindas. 'Odeio toda a gente branca', proferiu. 'Vocês são ladrões e mentirosos. Roubaram nossa terra e nos tornaram párias'. Sabendo que só o oficial do Exército podia compreender o que ele estava dizendo, Touro Sentado fazia, ocasionalmente, uma pausa para os aplausos; inclinava-se, sorria e então lançava mais alguns insultos. Finalmente, sentou-se e o preocupado oficial tomou seu lugar. O oficial só tinha uma curta tradução escrita, poucas frases amistosas, mas juntando algumas metáforas índias bem adequadas, fez o público ficar em pé numa ovação estrondosa para Touro Sentado. O chefe hunkpapa era tão popular que os funcionários da estrada de ferro o levaram a St. Paul para outra cerimônia."
(p. 359)

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"Touro Sentado deu a maioria desse dinheiro para o grupo de meninos andrajosos e famintos que pareciam cercá-lo aonde fosse. Disse certa vez a Annie Oakley, outra das estrelas do Show do Oeste Selvagem, que ele não podia compreender como os brancos poderiam ser tão indiferentes aos seus pobres. 'O homem branco sabe como fazer tudo', disse, 'mas não sabe como distribuir isso'".
(p. 360)

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"Nesse momento, John Grass e os chefes adiantaram-se para assinar o acordo. Estava tudo acabado. A Grande Reserva Sioux estava dilacerada em pequenas ilhas, a cuja volta correria a torrente da imigração branca. Antes de Touro Sentado poder sair do local, um jornalista perguntou-lhe como os índios se sentiam ao ceder suas terras.
'Índios!', gritou Touro Sentado. 'Não há mais índios, só eu!'"
(p. 365)

Referência
BROWN, Dee. Enterrem meu coração na curva do rio. Porto Alegre: L&PM, 2009.

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