domingo, 13 de fevereiro de 2011

Revolta popular no Egito pode pôr fim ao assédio às mulheres.

A revolta popular no Egito não está apenas impulsionando mudanças há três semanas no plano político do país, mas também nas ruas, onde "milagrosamente" o assédio sexual às mulheres diminuiu, ou pelo menos é o que parece. O local onde isso é mais evidente é na praça Tahrir, no Cairo, símbolo dos protestos antigovernamentais e onde homens e mulheres compartilham o espaço para manifestar-se, comer, dormir e rezar, sem que elas sofram assédio verbal ou toques indesejados.

É o que confirma a estudante Maram Mahmoud, de 23 anos, uma das voluntárias que controlam os acessos a Tahrir para ter a certeza de que ninguém introduzirá armas na praça e também para evitar distúrbios. "Certamente não há assédio sexual", avaliou entusiasmada Naram, que usa o véu muçulmano, enquanto explica sentada no meio-fio de uma calçada. A jovem disse que nas últimas semanas uma multidão de egípcios participou das manifestações na praça e que "ninguém incomodou ninguém. Aqui o povo é mais responsável, é um paraíso". "E se há alguma pessoa que faz algo errado, sempre haverá alguém para lhe dizer que está equivocada", destacou maravilhada Naram, em referência à permissividade e indolência que muitas mulheres encontravam quando eram assediadas antes dos protestos populares.

Quem tem a mesma opinião é a dona de casa Yasmín T., que não quis dar seu nome completo e que foi à praça Tahrir acompanhada de seus filhos e várias amigas. "Os homens protegem as mulheres. O país está unido pela mesma razão. Os homens já não pensam no assédio, todos pensam na política", observou Yasmín. Para a dona de casa, o assédio sexual provinha da frustração dos egípcios com o futuro, mas agora "há esperança e otimismo, todo o mundo no Egito está mudando".

Apesar de a praça Tahrir ter se transformado em uma zona livre de assédio, um passeio por seus arredores e por outros bairros mostra que, embora este fenômeno tenha diminuído, ainda pode se observar algum homem assobiando para uma mulher ou chamando-a de "ishta", um dos apelativos mais comuns e que pode ser ofensivo dependendo do tom empregado. Nesse sentido, Naram reconheceu que "ainda há muito caminho por percorrer". "Digamos que o Egito não é o paraíso e que há muitas coisas que mudar", disse a estudante, que mesmo assim expressou sua esperança em que a revolta sirva para que as crianças de hoje tenham novas atitudes com relação às mulheres de amanhã.

Sobre o futuro, a escritora e feminista Nawal el Saadawi, de 79 anos, disse que "os revolucionários estão trabalhando para mudar a Constituição e ter um Estado laico, uma Carta Magna na qual homens e mulheres sejam iguais". Segundo sua opinião, o regime de Hosni Mubarak usou a religião e o assédio às mulheres para dividir e ameaçar os cidadãos. "Esta revolução é como um sonho", afirmou Nawal, para quem "em Tahrir não houve um só caso de assédio sexual contra mulheres desde o último dia 25", data na qual começaram os protestos.

Mais cauteloso sobre o futuro está o analista político e blogueiro Issandr al Amrani, que vê a ausência de assédio sexual na praça como "algo excepcional". O analista lembrou que antes do levante popular existia o sentimento generalizado de que o regime de Mubarak estava se perpetuando com a violência e de que havia corrupção em todas as partes. Para Amrani, "essa quebra moral do regime se refletia na sociedade egípcia", onde se aceitava o assédio sexual como algo normal e havia o aumento da intolerância religiosa e um pessimismo geral.

Em sua opinião, não está descartado que a revolta acabe com o assédio, porque, "embora no Egito não haja uma revolução política que tenha feito cair o regime de Mubarak, houve uma revolução na mentalidade, uma revolução sobre a maneira como os egípcios veem si mesmos". Tragam ou não o desaparecimento do assédio nas ruas do país, o certo é que os eventos dos últimos dias representam uma reviravolta na mentalidade dos egípcios. No mais, é como indicou recentemente o escritor Alaa al Aswany em um encontro com jornalistas, "a revolução torna as pessoas melhores".

Fonte: http://noticias.terra.com.br/noticias/0,,OI4942418-EI188,00-Revolucao+no+Egito+acaba+com+assedio+as+mulheres+ou+quase.html

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