terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Como o Dinheiro se transforma em Capital


Capítulo IV

Como o Dinheiro se transforma em Capital


A circulação de mercadorias é o ponto de partida do Capital. A produção de mercadorias e o comércio constituem as condições históricas que dão origem ao Capital.

Todo Capital, surge no mercado de mercadorias, de trabalho ou dinheiro, sob a forma de dinheiro que, através de determinados processos, tem de transformar-se em Capital.

O dinheiro que é apenas dinheiro se distingue do dinheiro que é Capital, através das diferenças nas suas formas de circulação.

A forma simples da circulação das mercadorias é M-D-M. Trata-se de vender para comprar. Ao lado dela, encontramos uma estrutura especificamente diversa, D-M-D, conversão de dinheiro em mercadoria e, reconversão de mercadoria em dinheiro, trata-se de comprar para vender.

O dinheiro que se movimenta de acordo com esta última forma de circulação, transforma-se em Capital, vira Capital, por sua destinação, é Capital.

O que faz a unidade de ambas as fases é o movimento conjunto em que se permuta dinheiro por mercadoria e a mesma mercadoria, por dinheiro. O resultado final de todo o processo, é a troca de dinheiro por dinheiro: D-D.

É evidente que a circulação D-M-D seria absurda e sem sentido, se o objetivo dela fosse permutar, por exemplo, 100 Reais por 100 Reais. O objetivo de tal forma de circulação é que o dinheiro final seja maior que o dinheiro inicial.

EX: D - M - D

100 120

M-D-M para D-M-D não seja meramente formal, mas também substancial.”

A circulação simples começa com a venda e termina com a compra, na circulação de dinheiro como Capital, começa com a compra e termina com a venda. No primeiro caso, é a mercadoria e, no segundo, o dinheiro, o ponto de partida e o ponto de chegada. Na primeira forma de movimento, serve o dinheiro de intermediário, na segunda, a mercadoria.

Na circulação M-D-M, o dispêndio de dinheiro nada tem a ver com o seu retorno, já em D-M-D, a volta do dinheiro é determinada pela maneira como foi despendido.

No circuito M-D-M, ponto de partida e de chegada é um valor-de-uso. No circuito D-M-D, o ponto de partida e de chegada, é o valor-de-troca.

Na circulação simples, o ponto de partida e o de chegada diferem qualitativamente entre si. Na circulação do dinheiro em sua forma de Capital, as diferenças entre o ponto de partida e o de chegada diferem quantitativamente. No final, se retira mais dinheiro da circulação, do que se lançou nela, no início.

O casaco comprado por 100 Reais será vendido por 100+20, 120 Reais, portanto.

A forma completa do movimento de transformação do dinheiro em capital, é a seguinte: D-M-D’ em que D’= D+XD.

Esse acréscimo de valor chama-se MAIS VALIA.

Na compra para a venda (D-M-D), o começo e o fim são os mesmos, dinheiro, valor-de-troca e, por isso mesmo, o movimento não tem fim, D torna-se D+XD.

O Dinheiro encerra o movimento apenas para reiniciá-lo de forma ampliada novamente.

A circulação de dinheiro como Capital tem sua finalidade em si mesma, pois a expansão de valor só existe neste movimento continuamente renovado de forma ampliada. Por isso, o movimento do Capital não tem limites.

Como representante consciente desse movimento, o possuidor do dinheiro torna-se capitalista. Enquanto a apropriação crescente da riqueza abstrata for o único motivo que determina as suas ações, existirá ele como personificação do Capital.

Se o dinheiro não assumir a forma de mercadoria, ele não irá se transformar em Capital.

Se na circulação simples, o valor das mercadorias adquire, no máximo, a forma independente de dinheiro, na circulação de Capital, esse valor se revela subitamente uma substância que tem um desenvolvimento, um movimento próprio.

Com relação a valor-de-uso, pode-se dizer que a troca é uma transação em que ambas as partes ganham.

Com o valor-de-troca é diferente.

Desde que a circulação de mercadorias só implica mudança na forma do valor, determina ela, quando o fenômeno ocorre em sua pureza, troca de equivalentes. Se ambos os participantes podem ganhar com a relação de valor-de-uso, não ocorre o mesmo com a relação de valor-de-troca.

Trocam-se mercadorias ou mercadorias e dinheiro de igual valor de troca, portanto equivalentes, não se tira nada a mais da circulação do que o que nela se lança. Não ocorre nenhuma formação de valor excedente.

A formação da mais valia e, portanto, a transformação de dinheiro em Capital, não pode ser explicada, por o vendedor vender as mercadorias acima do valor, nem por o comprador comprá-las abaixo do seu valor real.

Na circulação, produtores e consumidores confrontam-se apenas como vendedores e compradores. Afirmar que o valor excedente para o produtor provém de o consumidor pagar a mercadoria acima de seu valor, equivale a dissimular as condições objetivas. Não se dá um passo à frente por saber que o possuidor da mercadoria, vende a mercadoria acima do seu valor.

O resultado permanece o mesmo. Se são trocados equivalentes não se produzem valor excedente, e se são trocados não-equivalentes, também não surgem nenhum valor excedente. A circulação ou a troca de mercadorias não gera nenhum valor excedente.

O Capital não se origina só na esfera da circulação, mas também não se origina apenas fora dela. Deve, ao mesmo tempo, ter e não ter nela a sua origem.

Portanto, a transformação de dinheiro em Capital tem de ser explicada à base das leis imanentes da troca de mercadorias, e desse modo, a troca de equivalentes serve de ponto de partida.

A mudança do valor do dinheiro que se pretende transformar em Capital, não pode ocorrer no próprio dinheiro. Tampouco pode a mudança de valor ocorrer no segundo ato da circulação, na revenda da mercadoria, pois este ato apenas reconverte a mercadoria de sua forma natural em sua forma dinheiro.

Para extrair valor do consumo de uma mercadoria, o possuidor do dinheiro tem de descobrir, dentro da esfera da circulação, no mercado, uma mercadoria cujo valor-de-uso possua a propriedade peculiar, de ser fonte de valor, de modo que consumi-la seja realmente encarnar trabalho, criar valor. E o possuidor de dinheiro encontra essa mercadoria especial: é a capacidade de trabalho ou a força de trabalho.

A força de trabalho só pode aparecer como mercadoria, enquanto for e por ser oferecida ou vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ele é força de trabalho.

O possuidor do dinheiro e o possuidor da força de trabalho encontram-se no mercado e entram em relação um com o outro como possuidores de mercadoria. A continuidade dessa relação exige que o possuidor da força de trabalho a venda sempre por tempo determinado, pois se a vende de uma vez por todas, vender-se-á a si mesmo, e transformar-se-á de homem livre em escravo, de um vendedor de mercadoria em mercadoria.

Outra condição: o dono da força de trabalho não pode vender mercadorias em que encarne seu trabalho, e é forçado a vender sua força de trabalho, que só existe nele mesmo.

Para transformar dinheiro em Capital, o possuidor do dinheiro tem de encontrar o trabalhador livre no mercado. O trabalhador deve ser livre em dois sentidos: 1) dispor de sua força de trabalho como mercadoria e 2) estar inteiramente despojado de todas as coisas necessárias à materialização da sua força de trabalho (o trabalhador deve confrontar-se com os meios de produção de forma alienada).

As condições historicamente necessárias para a existência do Capital, não se concretizam por haver apenas circulação de mercadorias e dinheiro, o Capital só aparece quando o possuidor de meios de produção e de subsistência encontra o trabalhador livre no mercado vendendo sua força de trabalho.

Como qualquer outra mercadoria, o valor da força de trabalho é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para a sua produção e, por conseqüência, para a sua reprodução. Para manter-se, precisa o indivíduo de certa soma de meios de subsistência. O tempo de trabalho necessário para a produção da força de trabalho reduz-se, portanto, ao tempo de trabalho necessário à produção desses meios de subsistência, ou o valor da força de trabalho é o valor dos meios de subsistência necessários à manutenção da vida de seu possuidor.

A soma dos meios de subsistência necessários à produção da força de trabalho inclui também os meios de subsistência dos substitutos dos trabalhadores, os seus filhos, de modo que se perpetue no mercado essa espécie peculiar de possuidores de mercadorias.

Os custos da qualificação da força de trabalho, como educação, também entram nos custos necessários para a sua produção.

A força de trabalho só é paga depois de ter funcionado durante o prazo previsto no contrato de sua compra. Vende-se a força de trabalho pra ser paga depois.

O processo de consumo da força de trabalho é, ao mesmo tempo, o processo de produção das mercadorias e de valor excedente (mais valia).

O consumo da força de trabalho, como de qualquer outra mercadoria, realiza-se fora do mercado, fora da circulação. Por isso, abandonaremos essa esfera ruidosa, onde tudo ocorre na superfície, para agora entender esse processo no seu devido lugar: na Produção. Veremos aí como o Capital produz e também é produzido.


~


Depois de procurar infinitamente (por 15 minutos) algum resumo de O Capital, de Marx, pela internet e ver que NÃO há (completinho, ao menos) resolvi prestar esse serviço à humanidade – grande coisa, mas alguém tinha que fazer.

Os capítulos não estarão em ordem, meu saco não é tão grande assim. :)

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