domingo, 14 de fevereiro de 2010

Cai o pano.

Sendo carnaval, vou postar uns recortes da obra que conta a história dos personagens clássicos do carnaval: Colombina, Pierrot e Arlequim:


Nos quatros cantos do salão, um cantinho à parte, plebeuzinho na janela, espia em vão toda a arte!

Um céu estrelado explode resquícios de saudades. Um perfume de milhares de rosas inebria as nuvens tampoucas ausentes na negra tingida cúpula.

Dançar no salão em festa é fazer poesias. E em noites de verão... Amar!
Amar é rasgar papéis em sonetos. E nesse tilintar de notas benfazejas encontram no salão mascarado... Três corações em conquista: Um Arlequim fogoso e esperto, um Pierrot apaixonado e iludido, e uma Colombina.
Colombina por si só, que só por ser Colombina já basta tudo e em tudo se encerra.

Arlequim traiçoeiro qual Juan, amor fugaz, tampouco amor.
Com juras e pormenores prometeu à Colombina, num beijo roubado de vespa... doeu os lábios da doce menina, que em seu corpo enterrou sua alma e amou de desejo o efêmero Arlequim.

Pierrot tristonho, sem sorte no rosto, lágrimas escondidas em esquerda face violeta.
Chora seu amor impossível, de uma colombina fantasiada em seu doces sonho à borboleta.

Chora no salão mascarado:
- Quem viu Colombina? Colombina quem viu?
Deixei com ela meu espírito, e o beijo não dado à espera aqui.

E chora tão triste
Doce Pierrot
...

Apaixonou-se pelo beijo de Arlequim e amou o espírito inocente de Pierrot.

Não sabe qual música dança. Qual sonho rasga em literalidade.
Indecisa cobiçada Colombina: Ou o beijo quente de Arlequim ou o rosto triste de Pierrot!

O beijo é a soma do seu prazer
A tristeza é a realidade do seu amor.

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Linda Colombina:

Dize pra mim quem sou, que ao simples bailar no salão trago costurados em meus vestidos: amores, perjuros, juramentos, juízos!

De uma noite linda e violeta. Da cor do batom selado em meus lábios, de doce menina inocente, cobiçada, amada e perdida de corações em disparates.

Eu Colombina... que faço promessas a mim mesma de nunca ter só um coração ao meu alcance... quero todos, e ao mesmo tempo nada quero. Pois ter é sinal de cobiça e não ter é sinal de ignorância.

Sou jovem condenada ao acaso de lambuzar os sonhos meninos de desejo, de luxúria e de romantismo.

Depende dos olhos que me vigiam.
Para uns, sou a borboleta selvagem em busca da mais linda e cobiçada Dama da Noite.
Para outros, sou a lua espelhada no riacho linda, prateada, e ingênua... mas impossível de ser tocada.

Eu por mim só, sou a Colombina, a dama que vagueia este salão populoso.
Em uma noite de esperanças, a espera de um coração verdadeiro que não seja muito triste e nem assim muito fogoso.

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Desgraçado Arlequim:

Como sou desgraçado Arlequim.
Ridículo, insano e medíocre.
De um rosto mofado a quebra de ilusões.

Na ousadia do aperto de meus braços, busco enterrar meus dedos bruscos em carnes fêmeas e largas.
E assim me corrôo. Não posso ser melhor, não quero ser melhor, nunca serei melhor.

Romantismo me falta há tempos tantos. Há verões rasgados na saudade.
O que me sobra é este charco voluptuoso quem exala luxúria, luzes fortes, cheiro de Dama da Noite.

Sou desgraçado Arlequim. Não tenho mensagens na mente, não tenho alma no corpo, não tenho coração no peito
não tenho nada que me prove o contrário.

Pois sendo Arlequim, no cheiro de alecrim que exalo, alegro aquelas sedentas que buscam alegrias, nostalgias, alegrias.
De um corpo viril de um moço chamado, intimado, convocado. Desgraçado Arlequim.

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Tristonho Pierrot:

Eu sou um Pierrot... Sim!
Eu sou um Pierrot apaixonado.
Meu rosto traz a lágrima do amor perdido, chora nas vielas do mundo.
Um coração que não o pertence.

Amo nas quimeras de meus dias uma alma não correspondente aos meus afetos.
A lua para mim é uma máscara... uma fantasia de noites sonolentas, sem brilho, sem luzes, sem anúncio de estrelas cadentes.

Sou um pierrot decadente, de final de carnaval, de nariz vermelho quebrado, encostado, na sarjeta de antigos sambas.

Caiu o pano ao palco, a platéia há tempos se foi, e eu doce e ingênuo personagem.
Me vejo só no teatro da Colombina.

E amo tanto, e canto tanto, e poetizo um corpo dilacerado.

Pois se na Piarréia de meus dias não sobrar doces devaneios de loucuras, serei para sempre só triste sonho. Sem Pierrotear tantas venturas.

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Cai o pano.

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