Os pós-modernos, induzidos pelo processo de individualização humana cada vez mais crescente no capitalismo apegam-se ao conceito de identidade com a clara intenção de colocá-lo em destaque, sobrepondo-o ao conceito de classe social. Sem dúvida, é uma maneira sutil de reavivar o revisionismo metafísico, político e filosófico do final do século 19, quando ocorreu a primeira crise de estagnação do capitalismo. Naquele período (1873 – 1898) bastaram duas décadas e meia para que as várias correntes de pensamento, até então alinhadas ao marxismo, rompessem com ele e passassem a defender a via da luta político-institucional pacífica, como meio para a transformação da sociedade capitalista.
A tese da teoria marxista centrada nas leis fundamentais da dialética, principalmente a da negação da negação, quantidade e qualidade, unidade e luta dos contrários, abstrato e concreto etc. que nos possibilita ver as identidades de gênero, de idade, de etnia, de cultura, a subjetividade e quantas outras possam ser privilegiadas nas discussões atuais, no processo de transformação da sociedade – relacionadas e submetidas à identidade de classe – de exploradores e explorados – e pela oposição e luta entre elas – de um lado as forças que impõem a ordem e de outro as que se colocam contra ela, procurando subvertê-la, negando-a, e ao mesmo tempo, como forma de superação, afirmando outra ordem. As identidades de classe possuem uma conexão estreita que possibilitam passar de um estado para outro através do movimento das contradições. A negação coloca as contradições em estágios mais elevados de qualidade, quando as identidades trocam de condição como é o caso da classe trabalhadora que, ao negar a classe burguesa dominante, através do conflito e da não conciliação, assume o lugar de dominante com novas contradições tendo o Estado também como instrumento, mas, colocando acima dele a “ditadura do proletariado”, ou se quisermos, a ordem democrática da maioria contra a minoria.
A tese da confirmação da existência fundamental da classe é que orienta esta nova identidade. E não como fazem os revisionistas quando afirmam que “A nova filosofia da História tem seu cerne na substituição da luta de classes pelo amor para o tempo como motor da história moderna (…)”. A “nova metodologia” não vai além da substituição do que dominam de objetivismo de O Capital, por um subjetivismo por ele proposto. A “nova ética” nada mais é que a proposta de uma revolução passiva a partir da redução do comunismo a um estilo de vida alternativo que se pode afirmar no interior do capital (…). Isto porque, para que os dominados se emancipem, precisam formar e organizar a sua classe, reconhecer a existência de seu oposto que é a classe dominante, e, a partir disso, procurar, através da luta, ocupar o seu lugar, ultrapassar a natureza da dominação burguesa, minoritária, e instituir a democracia da maioria para a maioria, pondo em movimento a lei dialética da quantidade e qualidade. Uma classe é a condição para a existência da outra na luta da própria superação. Como não pode haver capitalismo sem classes, ao estabelecer a luta contra a classe dominante atual, a classe trabalhadora pretende ser vitoriosa, tornando-se dominante. Neste sentido, há, a partir da ruptura entre as duas grandes classes, um aprimoramento na organização, elevação do nível de consciência e melhora nas relações sociais e de solidariedade entre os componentes da classe, que mais adiante deverá também ser extinta.
(Ademar Bogo – Identidade e Luta de Classes)
Um comentário:
O autor faz uma espécie de “samba do crioulo doido” com o conceito de “identidade”. O primeiro ponto problemático é de que os pós-modernos se “apegam ao conceito de identidade”. Será que podemos falar isso de um Baudrillard, por exemplo? Não creio. Segundo, é absolutamente discutível que a “identidade” de gênero (?), por exemplo, está “submetida” à identidade da classe. Não está. É preciso ter muito cuidado com essa tese errônea (ver, para isso, Roswitha Scholz). Terceiro, há uma profunda e grave contradição no texto do autor quando ele, na tentativa de criticar o suposto “apego” dos pós-modernos ao conceito de identidade, acaba descambando, ele também, para um apego... ao conceito de identidade! Quarto: o trato que ele dá a esse conceito de identidade é profundamente não-dialético (aliás, em que texto é que Marx fala em “identidade” da classe trabalhadora?). Os conceitos em Marx são sempre dialéticos, uma coisa só se define pela sua relação com o seu contrário. Estabelecer que um determinado ente se define pela identidade que mantem consigo mesmo é um contra-senso (que é o que o autor faz). No caso das classes, é preciso entendê-las como um antagonismo que pouco a pouco vai tomando forma e se expressando em vários âmbitos das suas atividades. Quinto, o autor parece não compreender a diferença que existe entre capitalismo e capital. O problema das classes proletárias não é meramente o capitalismo, e sim o capital (como é mesmo o título do livro principal de Marx?). Sexto: parece que o autor tem uma compreensão excessivamente esquemática sobre as “leis” da dialética, flerta com o positivismo e resvala em uma maneira linear de compreender a história e a revolução. Sétimo: estabelecer considerações sobre o que a práxis revolucionária é ou deve ser (em direção a uma “ditadura do proletariado” etc.) sem uma rigorosa análise da conjuntura concreta configurada pelo sistema do capital atualmente estabelecido, é metafísico e, creio, extremamente dogmático.
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