sábado, 1 de agosto de 2009

Crucificação da Verdade - Eduardo Galeano


O escritor John Reed havia comprovado, em 1917, que "as guerras crucificam a verdade". Muitos anos depois, outro compatriota, o presidente Bush pai, que havia promovido a primeira guerra contra o Iraque com o propósito de libertar o Kwait, publicou suas memórias. Nelas, confessava que os EUA tinham bombardeado o Iraque porque não se podia permitir "que um poder regional hostil tomasse como refém boa parte do fornecimento mundial de petróleo". Talvez, quem sabe, alguma vez, o presidente Bush filho publicará uma errata sobre sua própria guerra contra o Iraque, em que diria: onde se lê "Cruzada do Bem contra o Mal", deve-se ler: "Petróleo, petróleo, petróleo".

Mais de uma errata será necessária. Por exemplo, haverá que se deixar claro que onde se diz "Comunidade Internacional", deve-se ler: líderes belicistas e grandes banqueiros. Quantos são os arcanjos da paz que nos defendem dos demônios da guerra? Cinco. Os cinco países que têm direito a veto no Conselho de Segurança da ONU. E esses guardiães da paz são, ademais, os principais fabricantes de armas. Estamos em boas mãos.

E quantos são os donos da democracia? Os povos votam, mas os banqueiros vetam. Uma monarquia de tríplice coroa reina sobre o mundo. Cinco países tomam as decisões no Fundo Monetário Internacional. No Banco Mundial mandam sete. Na Organização Mundial do Comércio, todos têm direito a voto, mas nunca se vota. Mas é necessário reconhecer, para não ser dogmático e sectário, as virtudes dessas organizações que governam o mundo. No fundo, eles merecem nossa gratidão: elas afogam nossos países, mas depois nos vendem salva-vidas de chumbo.

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